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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Um amor exigente

Por ocasião do mês missionário, da visita da Mãe Aparecida à nossa Diocese e ao presídio central de Guarabira, mas, sobretudo com a proximidade do ano da misericórdia, sinto-me na responsabilidade de escrever um pequeno artigo sobre nosso compromisso como cristãos, perceber a presença do Cristo preso nas pessoas daqueles que estão privados da sua liberdade e, de tantos outros direitos fundamentais assegurados pela Bíblia – Palavra de Deus - que é a nossa constituição por excelência. E pela constituição brasileira, no entanto, negados pela sociedade dos homens do poder.
Que interpretação poderíamos fazer do texto de (Is 42, 6-7)? Onde o Senhor chama nossa atenção para o compromisso, de que uma vez tomados pela mão, e encarregados da aliança das nações, abrir os olhas dos cegos, libertar os encarcerados e tirar da escuridão os que estão nas trevas das prisões? Como escolhidos de Deus, como nos sentíamos diante de tais interpelações? Esses irmãos trazem consigo uma dupla preferência de Deus, 1) por serem feitos marginais, 2) por representarem o próprio Filho de Deus (Jesus) encarcerado por nossas culpas...
                 Quando lemos e rezamos (Is 61, 1-2). A que compromissos nos sentimos chamados? O que representa para nós a proclamação do ano da graça do Senhor? Somos batizados, ungidos com o mesmo Espírito de Cristo. Estamos vivendo o ano da graça do Senhor, é necessário tomar para nós cristãos, as palavras do Profeta – Sarar os Corações aflitos, anunciar aos cativos a libertação, aos prisioneiros conceder o alvará de soltura – assim podemos anunciar o dia de nosso Deus, fazer justiça, para consolar os que estão tristes. Outra palavra que nos chama a atenção, como humanos e cristãos ungidos, está em (Is. 58,6-7) quebrar as correntes da injustiça, acabar com a opressão, deixar de lado toda espécie de imposição, e tudo isto a partir de atitudes pessoais, bem como o acolher, o vestir, o alimentar, o visitar e jamais se esconder do pobre nosso irmão, eis o jejum, a penitência agradável a Deus.
Diante da onda de violência, dos males que assolam a todos nós, mas, sobretudo, dentro do sistema prisional, com aqueles que já perderam a sua liberdade. À luz do (SL 142,5-8), não podemos perder o nosso senso cristão, acompanhado de uma indignação ética. É verdade que a violência acontece em duplo sentido; Não podemos esquecer que todos nascemos com a mesma dignidade que o criador nos concedeu, mas o mundo  transformou alguns em doutores e muitos em marginais, acredito que nós, cristãos, podemos, no mínimo, ser um apoio, um sinal de esperança para aqueles que nascem iguais a nós, sem dentes e sem unhas, para não corrermos o risco de ferir os outros, e agora estão trancafiados como leões. Alguém precisa também olhar para eles!
Para a nossa melhor compreensão da situação e maior solidariedade com essa parcela da humanidade, quase que banida do nosso convívio, recorramos ao nosso texto magno do Evangelho (Mt. 25,34-39), o qual nos mostra a condição fundamental para a concretização da nossa fé em Cristo aqui na terra, e elemento central do nosso julgamento no dia do nosso encontro definitivo com Ele. O serviço ao outro e, ao outro rejeitado, fora do convívio social, deve ser de fundamental importância para nossa vida de discípulo missionário do Senhor. Como podemos entender que alguém que por seu sofrimento, é deserdado da sociedade e é, ao mesmo tempo, preferido de Deus? Voltemos a nossa reflexão para a alegoria do corpo místico. Que lugar ocupam os presos no corpo místico de Cristo? Será que não são os membros mais frágeis, menos dignos, menos nobres?E se assim for, o que nos impede de assumir um compromisso também com a causa deles?
Se é verdade que os membros precisam uns dos outros - e é verdade - do que necessitam os membros encarcerados dos membros em liberdade? E de que precisam os membros em liberdade, dos membros encarcerados? Até onde deve chegar a nossa solidariedade?
O que não diriam os repórteres policiais e outros sobre este artigo? Mas eles ganham para defenderem uma “pureza angelical” do Estado e dos “homens de bem!” é um direito que eles têm. Certamente, já se pode prever o que dirão alguns “cristãos”, que se emocionam diante das sagradas espécies Eucarísticas, que choram e até entram em transe? No mínimo dirão que este é um artigo Herético, contrário às suas conveniências religiosas! Sendo assim, a Bíblia está repleta de heresias, que, por sinal, são por vezes sofridas, porém, belas e cheias de sentido.
Pe. Romildo José Santos de Sousa (Membro da Pastoral Carcerária)







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